Os Usos dos Instrumentos de Escrita

“Quem não trabalha com a caneta, trabalha com a picareta.”
(Juventino da Silva, meu pai.)

Pode parecer desnecessário discorrer sobre ferramentas que você está acostumado a usar há dez anos ou mais, desde que aprendeu a ler e a escrever. Mas, justamente por estar acostumado a usá-las sempre do mesmo jeito, você talvez não as use da melhor maneira. Quantas vezes você não teve que interromper um exercício ou uma anotação porque a ponta do lápis quebrou ou a caneta borrou?

Vou aqui descrever algumas características, variações e melhores usos de instrumentos com grafite (lápis e lapiseiras) e com tinta (canetas). Não que isso vá fazer muita diferença no seu aprendizado. Mas pode fazer alguma diferença no seu desempenho, no aproveitamento do seu tempo. Pelo menos, pra você não ter que interromper um raciocínio num momento importante.

Lápis, pra que te quero?

O primeiro instrumento de escrita que todo mundo aprende a manipular, ainda durante a alfabetização, é o lápis. Porque é o que exige menos técnica especializada para usar. Mas as desvantagens são bem conhecidas. Primeiro, é necessário refazer a ponta com frequência, com uma navalha, canivete ou, de modo mais seguro, um apontador. Mas o pior é que a mina de grafite interna se quebra com facilidade com as inevitáveis quedas no chão.

Os fabricantes inventaram, ao longo do tempo, alguns truques para diminuir as quedas: a forma sextavada (prismática de base hexagonal) ao invés da cilíndrica, para evitar que o lápis role da mesa; o acabamento rugoso, ao invés de liso, e mesmo com algumas pelotinhas, para evitar escorregar da mão. Mas o problema da quebra da grafite, em si, é insolúvel, porque é inerente ao “projeto” do lápis. Uma vez que a mina é colada na carcaça de madeira, o impacto das quedas é transmitido integralmente para a grafite, que pode quebrar em qualquer ponto de seu comprimento ― e frequentemente quebra em vários pontos.

A lapiseira surgiu como uma evolução do lápis. Inicialmente, as minas internas tinham o mesmo comprimento e a mesma espessura que as dos lápis, mas ficavam abrigadas num compartimento interno, sem contato direto com a carcaça metálica ou plástica da lapiseira. A mina era fixada à carcaça somente pela extremidade apontada, de modo que, em caso de queda, somente essa ponta se perdia.

Também, nas lapiseiras originais, as pontas ainda precisavam ser afiadas, geralmente com um apontador embutido no próprio instrumento. Até que os japoneses, perfeccionistas como ninguém, resolveram acabar com essa necessidade de afiar as pontas, fazendo minas muito fininhas: de 0.9, 0.7, 0.5, 0.3, 0.2 mm, conforme a técnica de fabricação foi sendo aprimorada. Com isso, também, várias minas poderiam ser mantidas no compartimento interno da lapiseira.

O problema é que, quanto mais finas as minas, mais quebradiças elas são. É necessário extremo cuidado para inseri-las ou removê-las na lapiseira sem quebrá-las. A mina que está com a ponta exposta quebra à toa, não só em quedas, mas apenas com a mera força aplicada ao escrever. Os mecanismos de avançar as minas são também mais sujeitos a emperrar, e remover pedaços quebrados de minas é meio chatinho, pra dizer o mínimo. Os fabricantes quebram a cabeça tentando inventar mecanismos melhores de avançar e ao mesmo tempo proteger as minas, mas eles apenas amenizam um pouco o problema.

Mas a coisa mais chata das lapiseiras é que seus mecanismos de avanço da mina, por mais robustos e sofisticados que sejam, se desgastam e estragam depois de algum tempo, que varia conforme a melhor ou pior qualidade dos materiais e o maior ou o menor cuidado do usuário.

Então, a escolha entre lápis e lapiseiras fica mesmo condicionada ao que te incomoda mais. Se você gosta de um traço bem fino, e não tem paciência de ficar apontando toda hora, é melhor as lapiseiras com minas superfinas. Se você não se importa com um traço mais grosso, ou não se incomoda de fazer ponta com frequência pra manter o traço fino, é melhor uma lapiseira de mina grossa. Se você acha chato ter que lidar com os mecanismos falíveis das lapiseiras, prefira os lápis mesmo.

Qualquer que seja a carcaça externa que você prefira para envolver as minas de grafite, um aspecto técnico que deve ser levado em conta, mas que muitos estudantes não ligam muito (ou se confundem um pouco) é a dureza da grafite. Dureza, aqui, é no sentido que se aprende nas aulas de Química, ou seja, resistência ao risco, não à quebra. É meio contraintuitivo, mas quando você passa uma ponta de grafite sobre o papel, é a grafite que é riscada (ou seja, desgastada pelo atrito), não o papel! A camada de grafite deixada sobre o papel, às vezes chamada de “risco”, é mais apropriadamente chamada de “traço”.

Pois bem. Os fabricantes usam uma escala de dureza de grafites (inventada pela Faber‐Castell, aliás), embora nem todos ofereçam lápis e minas cobrindo toda a escala. Em ordem crescente de dureza, temos: 9B, 8B, 7B, 6B, 5B, 4B, 3B, 2B, B, HB, F, H, 2H, 3H, 4H, 5H, 6H, 7H, 8H, 9H. As grafites com a letra ‘B’ (de black, “preto” em Inglês) são mais macias e produzem traços mais escuros e mais grossos, o que as torna mais apropriadas para esboços e desenhos artísticos. As grafites com a letra ‘H’ (de hard, “duro” em Inglês) são mais duras, e produzem traços mais claros e mais finos, o que as faz mais adequadas a desenhos geométricos e técnicos.

Para escrever, as grafites mais apropriadas são as que estão no meio da escala, entre ‘2B’ e ‘2H’ . (A propósito, a categoria ‘F’, bem no meio, é nomeada a partir do Inglês fine, “fino”.) Uma grafite muito mole vai borrar o papel se você passar a mão ou o dedo por cima do traço, o que é inevitável quando se escreve. Uma grafite muito dura vai deixar um traço muito claro, pouco contrastante com o branco do papel, cansando a leitura.

Mas isso não quer dizer que você deva usar, para escrever, somente um tipo de grafite. Os estudantes não se dão conta, mas podem usar grafites de diferentes durezas para diferentes finalidades, de modo a otimizar seus estudos. Por exemplo, em anotações, redações, respostas a questões discursivas, você pode usar por padrão uma grafite de dureza média, como HB, e destacar uma palavra ou fórmula mais importante no seu texto escrevendo-a com uma grafite mais macia e escura, como 2B. (Tem que ser um salto de pelo menos duas “paradas” na escala de dureza pra dar um contraste evidente de intensidade de cor no seu texto.) Isso reproduz o efeito de negrito dos textos impressos, e é considerado mais “limpo”, “elegante” e eficaz do que sublinhar as palavras. (Já notou como não se usam palavras sublinhadas em textos impressos profissionais? Os designers gráficos abominam sublinhados!)

Em questionários, ou listas de exercícios em geral, você também pode usar uma grafite mais macia e escura para os enunciados, e outra mais dura e clara nas respostas. Em exercícios de Matemática, Física ou Química, você pode usar grafites B ou 2B para os enunciados e as respostas finais, HB ou F para as resoluções passo a passo, e H ou 2H para cálculos auxiliares e desenhos esquemáticos. Sim, você vai gastar uns segundos a mais trocando de lápis ou lapiseira, mas seus exercícios ficarão mais fáceis de revisar e corrigir posteriormente.

No desenho de gráficos cartesianos, você pode usar uma grafite 2B para os eixos coordenados e uma grafite HB para desenhar a curva do gráfico propriamente dita. Já para as linhas auxiliares paralelas aos eixos, usadas para marcar os pontos importantes do gráfico, ao invés de fazer elas pontilhadas, use uma grafite 2H para fazer essas linhas auxiliares contínuas. (Desenhando à mão, uma linha contínua é mais rápida de fazer do que uma pontilhada.)

Na Geometria Espacial, na representação (necessariamente plana) de prismas, pirâmides e poliedros, as arestas visíveis “à frente” podem ser destacadas com uma grafite mais escura (como a B) que as arestas ocultas “atrás” (com H), de modo a tornar a representação mais clara. (Novamente evitando‐se os pontilhados e tracejados chatos de se fazer.)

Em Desenho Geométrico, você pode traçar as linhas auxiliares na construção de um Lugar Geométrico com uma grafite bem clarinha, como 2H ou H, e o traçado final com uma grafite média, como HB. Grafites B e 2B não são muito indicadas pra desenho geométrico, pois podem borrar ao se passar os instrumentos de desenho ou as mãos por cima. Mas, se for uma construção muito complexa, em vários passos, você pode usar H para os traçados mais básicos, a HB para construções intermediárias, e a B para o resultado final.

Outro recurso negligenciado pelos estudantes são os lápis de cor. As minas deles não são grafites, mas tintas sólidas feitas com materiais atóxicos. Eles não servem somente para aulas de desenho e pintura. Podem ser usados em qualquer situação em que cores diferentes possam servir para destacar informações diferenciadas. Por exemplo, em Matemática, no estudo de conjuntos, os diagramas de Venn podem ser coloridos com cores diferentes para destacar uniões, interseções ou complementos. Em Geometria Plana ou Espacial, pode-se colorir uma área ou um volume que se esteja pretendendo calcular.

Em gráficos cartesianos, uma cor pode destacar uma região delimitada por duas curvas, ou entre uma curva e um eixo coordenado. Gráficos estatísticos (em barra, em pizza, distribuição normal) também se beneficiam de cores diferentes para recortes diferentes dos dados ― como se pode ver em qualquer jornal ou revista.

E você não vai precisar de um estojo de lápis com 60 cores pra fazer isso! Bastam três ou quatro lápis, de preferência de cores claras, mas bem discerníveis (azul, verde, amarelo, rosa, lilás). Se você tiver algum grau de daltonismo, use somente cores que você consiga distinguir bem.

Tudo preto no branco

Deixando os lápis de lado, passemos às canetas. Tem uma variedade enorme nas papelarias atualmente, o suficiente para deixar qualquer um tonto com as infindáveis opções! Mas a maioria das variações anunciadas como grandes vantagens de uns modelos sobre os outros são pouco relevantes para o seu desempenho nos estudos. Na realidade, são poucas, e muito bem definidas, as características importantes que você deve levar em conta na hora de escolher canetas. Vamos a elas…

A primeira e mais óbvia característica de uma caneta é a cor da sua tinta. Padronizou-se em nossa cultura escolar e de escritório que as cores azul e preta são mais “sérias”, e por isso mesmo são requeridas para responder provas, assinar documentos, prestar o Enem, em vestibulares e concursos públicos. Outras cores, como verde e lilás, são consideradas mais “decorativas”; o vermelho, em especial, é para chamar a atenção, geralmente para erros, na correção de exercícios e provas. São convenções tão antigas e tão onipresentes que ninguém sabe, ou se interessa em saber, como foi que surgiram.

Pois aqui vou fazer uma revelação que me sobreveio quando eu já estava na faculdade. Na verdade, você não precisa de canetas de nenhuma outra cor que não seja preta! Seus professores ainda podem precisar da vermelha pra corrigir provas; mas você, pra estudar para as provas, não precisa.

Olhe para qualquer texto impresso em publicações profissionais ― jornais, livros, revistas, mesmo panfletos. De que cor é o texto corrido? É azul? Não! Invariavelmente, é preto. A razão é que o preto é, obviamente, a cor que oferece maior contraste, e portanto, melhor leiturabilidade (facilidade e conforto na leitura), contra fundos brancos ou claros, como são a maioria dos papéis usados para se imprimir, ou se escrever. Mesmo em fundos de cores mais intensas, o preto sobressai melhor que outras cores para o texto. Somente com fundos realmente escuros, que são menos comuns, se usam tintas em cores claras, geralmente branco.

Pois os mesmos princípios que guiam os designers gráficos na hora de escolher a cor (quase sempre preta) dos textos impressos devem servir também para guiar você na hora de escolher a cor dos seus escritos ― o que significa que sua caneta deve ser preta.

Mas não é por usar somente canetas pretas que suas anotações, redações e respostas discursivas de questionários terão que ser sempre “monótonos”. De novo, observe as publicações impressas. Os designers gráficos usam diversas recursos para dar “cor” a seus textos em preto ― e, sobretudo, para transmitir informações diferenciadas com essas variações. Itálicos e negritos são os recursos mais básicos de variação, mas que devem ser usados com parcimônia, pro texto não ficar “fantasiado” demais. (Falarei de itálicos e negritos mais adiante.) Variar o tamanho das letras ou o tipo de fonte (o “estilo” das letras) é também bastante comum.

Em seus cadernos, você pode usar recursos parecidos para destacar palavras, frases ou mesmo parágrafos inteiros de seus textos. Você pode alternar entre letra de mão no texto corrido e letra de forma em títulos e subtítulos, por exemplo ― maiúsculas em títulos, e minúsculas em subtítulos.

O segundo quesito técnico pelo qual você deve escolher suas canetas é a espessura dos traços que elas deixam no papel. Pessoas com “letra” grande (escrita manual seria o termo mais correto) devem usar canetas que fazem traços mais grossos; letras grandes (aqui são as letras do alfabeto mesmo) com traços muito finos comprometem a leiturabilidade. Pessoas com uma escrita manual pequena devem usar canetas que fazem traços mais finos; letras pequenas com traços grossos comprometem a legibilidade (a maior ou menor facilidade de distinguir as letras), e também, por conseguinte, a leiturabilidade.

(Não fique só com a minha palavra. Faça você mesmo testes, escrevendo quatro parágrafos alternados, com o mesmo número de linhas, em letras grandes e pequenas, usando canetas finas e grossas. Depois, peça para outras pessoas avaliarem quais os melhores e quais os piores de se ler.)

A espessura dos traços das canetas costuma ser indicada nas embalagens, mas, na maior parte das vezes, de uma maneira um tanto vaga ― “média”, “fina”, “extrafina”, etc. O problema é que, para diferentes tipos de pontas (e hoje há quase tantos tipos quanto existem marcas de canetas), os fabricantes usam critérios diferentes para definir o que consideram como traço “médio” ou “fino”. Canetas rollerball classificadas como de “escrita fina” produzem traços mais grossos que esferográficas classificadas como “médias”.

Alguns fabricantes informam nas embalagens a espessura das pontas de suas canetas em (frações de) milímetros. Mesmo assim, essa informação não é suficiente para se ter uma noção exata das espessuras dos traços dessas canetas. Porque canetas com pontas do mesmo tamanho, mas com tecnologias diferentes nessas pontas, deixam fluir mais ou menos tinta no papel. De qualquer forma, a espessura do traço será quase sempre maior que a o diâmetro da ponta da caneta, porque a tinta, ao ser absorvida pelo papel, se espalha um pouco “para os lados”. Quanto mais fluida for a tinta, maior esse espalhamento.

No fim das contas, a única maneira de saber a espessura exata de um traço feito por uma caneta, e avaliar se é ou não adequado ao tamanho da sua escrita de mão, é testar a caneta. Por isso que todas as papelarias têm, junto das prateleiras de canetas, papeizinhos para riscar. Só que as pessoas em geral usam esses papeizinhos só pra verificar se a caneta não está “seca” (quer dizer, se a tinta flui bem), ou se é “macia” de escrever.

Na próxima vez que você for comprar canetas, leve um caderno seu mesmo, uma caderneta que seja, não uma folhinha solta. Apoie sobre uma superfície horizontal e escreva algumas palavras com as canetas que testar ― seu nome completo e o de seu/sua namorado/a, por exemplo. Assim, você vai simular, da maneira mais fiel possível, o uso efetivo que você vai dar à sua caneta. E vai saber se a espessura do traço dela é adequada à sua escrita.

Mas não se fixe numa única espessura de traço de caneta. Da mesma maneira como é útil, no caso de lápis e lapiseiras, usar grafites de diferentes durezas, também pode ser útil você usar canetas com diferentes espessuras de traço. Você pode usar canetas que fazem traços mais finos ou mais grossos para simular itálicos e negritos, respectivamente. Com o cuidado de, quando usar um traço mais grosso, aumentar um pouco o tamanho das letras, para não comprometer a legibilidade; e quando usar um traço mais fino, diminuir um pouco as letras, para não comprometer a leiturabilidade.

O negrito serve para destacar títulos e subtítulos, e também algumas palavras ou termos mais importantes num texto corrido, como quando se define um conceito ou se apresenta uma ideia principal. Você pode simular o negrito em sua escrita manual usando um tamanho de letra ligeiramente maior e um traço mais espesso.

O itálico serve para destacar palavras que, num discurso lido, seriam pronunciadas de uma maneira diferente, pra enfatizar um significado incomum, um sentido figurado, uma função peculiar na frase. Palavras em línguas estrangeiras também devem ser escritas em itálico, salvo se forem siglas ou nomes próprios.

A rigor, as letras impressas em itálico não são necessariamente mais finas que as “normais”. O que as define é serem inclinadas para a direita e terem algumas “firulas” no seu desenho, o que as torna bem maçantes de reproduzir à mão. Mas, por causa de alguns efeitos ópticos e mesmo neurológicos (a maneira como o cérebro interpreta as informações visuais), letras em itálico podem parecer mais “claras” ou mais “finas” aos leitores. Daí que, para se obter num texto manuscrito um efeito similar ao do itálico em impressos, não precisa inclinar nem florear a letra, basta usar uma caneta de traços mais finos que a usada no restante do texto.

Resumindo essa parte:

  • Use, preferencialmente, canetas de cor preta.
  • Se você faz letras grandes, use uma caneta “média” na maior parte do seu texto, uma caneta mais “grossa” para simular negritos, e uma terceira caneta, mais “fina”, para simular itálicos.
  • Se você faz letras pequenas, use uma caneta “fina” na maior parte do texto, uma caneta “média” para simular negritos, e uma “extrafina” para simular itálicos.

Se você variar a espessura dos traços e o tamanho da sua escrita à caneta para destacar uma ou outra palavra no seu texto, e também usar letras de forma maiúsculas nos títulos e minúsculas nos subtítulos, você produzirá um caderno “limpo” e organizado, com anotações, exercícios e redações melhores de serem lidos e entendidos, mesmo usando somente tinta preta.

Borracha, essa incompreendida!

Agora que já abri sua mente para maneiras novas e mais produtivas de usar seus instrumentos de escrita, vou arrematar falando do “reverso da moeda”: os instrumentos de apagar ― as borrachas. Não há muito o que falar delas. Sua variedade hoje em dia é impressionante, em formatos, tamanhos e materiais. As melhores prometem deixar menos “farelos” quando são usadas, e borrar menos o papel. Mas isso também depende do tipo de papel e da grafite que elas vão apagar. Uma borracha boa para apagar grafite dura num papel rugoso pode ser terrível para apagar grafite mole em papel liso. Só testando mesmo pra saber. (No Youtube tem vários “test-drives” de borrachas.)

Mas todas elas servem apenas para apagar grafite; mesmo as que são anunciadas como “borracha de tinta”, são sofríveis nesse quesito. No caso da grafite, este material é depositado como uma camada fina sobre a superfície do papel, que pode ser removida com certa facilidade. Já o problema com a tinta de uma caneta (e também o pigmento de um lápis de cor, embora em menor grau), é que ela penetra nas camadas superficiais da folha antes de secar; de modo que a única maneira de “apagar” a tinta é remover, por raspagem, as camadas do papel em que ela se infiltrou.

Só conheço uma única borracha capaz de fazer isso (remover as camadas tingidas do papel): a boa e velha Mercur Nankin. Facilmente reconhecível em qualquer papelaria: pequena, alongada, cinzenta, áspera, dura, esfarelenta. Feia mesmo; mas eficaz. Tanto que, se usar muita força ao apagar com ela, você pode abrir um buraco na folha! (E este é mais um motivo pra você preferir cadernos com folhas com gramatura de 90 g/m², conforme eu recomendo na página O Uso Adequado dos Cadernos.)

Contudo, mais importante que saber que borracha usar é saber quando não usar borracha. A “cultura escolar” condiciona os estudantes, desde a alfabetização, a uma espécie de perfeccionismo pernicioso, decorrente de uma certa “aversão ao erro”, manifestada no recorrente ato de apagar o que o aluno fez errado e escrever o certo por cima. Como que para esconder o erro, ou mesmo fazer de conta que ele não existiu.

Ora, os erros constituem parte importante do seu processo de aprendizado ― mais até do que os acertos! Porque os acertos apenas revelam o que você já sabe, com o que você não precisa se preocupar. Já os erros mostram o que você ainda não sabe, e muitas vezes pensa que sabe, mas ainda precisa aprender. Se você simplesmente apaga seus erros, você perde essa noção e compromete o seu aprendizado. Quando voltar àquele ponto, àquela questão, àquele exercício, você não saberá que “armadilhas” se escondem ali, por trás de uma resposta corrigida, bonitinha, livre de erros. Com os erros você aprende; com os acertos, não.

Reforço, portanto, aqui, a recomendação que fiz em outra página (já não lembro qual): deixe sua borracha quieta no canto dela, para quando for realmente útil. Exemplos: em Matemática, um erro aritmético bobo, imediatamente identificado, às vezes a mera cópia errada de um expoente ou índice de uma linha para outra; em Português, um erro de acentuação ou de pontuação que você descobre ao revisar sua redação, antes de entregar à professora.

Mas os erros que decorrem de dúvidas de verdade, confusão de conceitos, esquecimento, falhas de raciocínio, tentativas de solução que se mostraram “becos sem saída”, estes você deve deixar. Não os apague! Destaque-os graficamente; anote ao lado a natureza do erro, e abaixo (não por cima), escreva a solução correta.

O bom operário é exímio no uso das suas ferramentas. Se você escolheu “trabalhar com a caneta”, saiba usar seu instrumento da melhor maneira possível. Pra não ter, depois, que trocá-la pela picareta…

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