Se você leu outras páginas e alguns comentários neste site, já deve ter percebido que eu não sou muito fã de leitura e escrita em dispositivos eletrônicos, softwares de aprendizado, exercícios online, etc. A leitura e a escrita em papel, embora possam ser mais lentas, favorecem mais o entendimento e a retenção de informações, de maneiras ainda não muito bem compreendidas pelos cientistas cognitivos. Recursos computacionais devem ser complementares, oferecendo coisas que são impossíveis no papel, como animações e vídeos de experiências, e também fotografias e ilustrações em quantidade e variedade muito maiores do que cabe nas páginas dos livros. Mas, na maior parte do tempo, você deve utilizar, nos seus estudos, o mesmo tipo de material didático que seus pais e avós usavam quando eram estudantes: livros, cadernos, canetas, lápis…
Mas será que você sabe mesmo usar esses materiais? Conhece mesmo seus tipos, suas características, seus melhores usos? Pode parecer estranho que eu esteja te perguntando isso a essa altura da vida, em que você já tem mais de dez anos de experiência com esses recursos. Mas tem um ditado antigo que diz: “O costume do cachimbo deixa a boca torta”. (Se você nunca viu alguém fumar um cachimbo, pesquise no Google Imagens pelo antigo personagem de histórias em quadrinhos e desenhos animados Popeye, que você vai entender o ditado.) Quer dizer que às vezes nos acostumamos a usar algumas ferramentas e utensílios do primeiro jeito que aprendemos e não nos interessamos em saber se existem outros jeitos que possam aumentar nossa produtividade, nos fazer ganhar tempo e até economizar algum dinheiro.
Pegue, por exemplo, seus cadernos do ano passado. Veja como alguns se deformaram ou até rasgaram as capas com o uso um tanto desleixado de sua parte. Como sobraram folhas em branco inaproveitáveis em uns, como faltaram folhas em outros; especialmente aqueles grandões, compartilhados entre várias “matérias”. Repare como o que está escrito de um lado da folha faz sombra e até relevo no outro lado, atrapalhando a leitura. Sem falar nos borrões e furinhos onde você tentou apagar algo que tinha escrito errado à caneta. Você pode achar que todas essas coisas “fazem parte” da rotina de qualquer estudante, por mais caprichoso que ele ou ela seja. Mas será que não tem um jeito de evitar esses pequenos aborrecimentos?
Sua excelência, o Papel
Para entender como usar melhor seus cadernos, primeiro você tem que entender bem o material de que eles são feitos: o papel. Há uma infinidade de tipos e formatos no mercado, mas o que você vai encontrar na imensa maioria dos cadernos é um dos mais vagabundos de todos: o papel sulfite, ou offset. É um papel branco, liso, fosco, fino, frágil. É muito usado porque é versátil e barato, descartável mesmo. (Ninguém pensa em fazer batalhas de bolinhas de papel do tipo couché…) Mas, mesmo entre os sulfites, há alguns de melhor qualidade que outros.
O principal dado definidor da qualidade desse tipo de papel é a gramatura. Trata-se de uma grandeza física inventada pela indústria papeleira para caracterizar seus produtos. É o quociente da massa do papel pela área coberta por ele, expresso em g/m². Ou seja, é algo semelhante ao conceito de densidade, que é massa/volume, só que com a área no lugar do volume. (É claro que uma folha de papel também tem volume; só que, como ela é muito fina, é mais prático trabalhar com sua área.)
Não é difícil intuir que, quando maior a gramatura do papel, mais grosso, pesado e resistente ele será. Para você ter uma ideia do quanto, vá numa papelaria qualquer, e procure aqueles pacotes de 500 folhas de “papel de escritório”. Este é um sulfite de melhor qualidade, tratado para ser mais liso, mais branco, mais opaco, mais resistente, para absorver melhor a tinta ou o toner da impressora. Você vai encontrar dois tipos, um de gramatura 75 g/m² e outro de gramatura 90 g/m². Repare como um pacote do de gramatura 90 é mais grosso e mais pesado (e também mais caro) que um pacote do de 75, mesmo tendo os dois pacotes a mesma quantidade de folhas e as folhas sendo do mesmo tamanho.
Agora, sabe qual é a gramatura típica das folhas de um caderno comum? Confira lá na contracapa (a capa de trás) do seu caderno: 63 g/m². Ou seja, é uma folha muito fina e leve, e por isso mesmo, muito frágil ― por isso, também, muito barata. Isso é importante para fazer cadernos com centenas de folhas que não sejam muito pesados para os estudantes carregarem, nem muito caros para os pais comprarem. Pronto, agora você sabe por que você escreve de um lado e fica a sombra e o relevo do outro, e porque a folha do seu caderno amarrota e rasga à toa!
As folhas de cartolina, muito usadas para fazer cartazes e murais, e também para recortes e colagens, são sulfites de gramaturas mais elevadas ― 120, 150, 180 g/m². Blocos de desenho geométrico, desenho técnico e desenho artístico têm também gramaturas nessa faixa mais alta. Mas estes já não são exatamente sulfites; suas matérias-primas, seus processos de manufatura e os tratamentos químicos que recebem são diferenciados. Já os papéis para desenho e pintura profissionais costumam ter gramaturas de 180 g/m² para cima, além de outras características próprias, sofisticadas, especialíssimas.
Então, meu primeiro conselho é: procure cadernos com folhas de maior gramatura, no mínimo 90 g/cm². São mais caros, mas mais duráveis e “confortáveis” de escrever. Depois de usar um desses, você não vai querer voltar para os de gramatura 63. E para os blocos de desenho, prefira os de gramatura um pouco maior, de 120 g/m².
Formatos em série
O “tamanho” do caderno, ou, melhor dizendo, seu formato, é outro fator importante, mas que costuma não ser muito levado em conta. No Brasil, assim como em grande parte do mundo, os cadernos seguem os formatos definidos na chamada Série A. É um conjunto de formatos de folhas de papel com medidas que obedecem a algumas propriedades matemáticas peculiares. Começa com o formato A0, definido como uma folha de 1 m² e uma razão entre largura e altura de 1 ∶ √2 ― ou seja, a altura é igual à largura vezes √2 . Para manter essa razão e aquela área, os lados da folha devem medir exatamente 841 × 1189 mm. (Faça as contas e confira. É um bom exerciciozinho de Geometria.)
Por que essa razão esdrúxula? Porque um retângulo com lados assim tem a propriedade de, ao ser dividido na metade de seu lado maior (sua altura), originar dois retângulos com a metade da área do retângulo original (obviamente) e essa mesma razão, de 1 ∶ √2 , entre as novas altura e largura! Desse modo, uma folha A0 cortada ou dobrada ao meio de sua altura dá origem a duas folhas de 1/2 m² e lados menor (largura) e maior (altura) na mesma razão 1 ∶ √2 . Este é o formato A1, que tem lados medindo 594 × 841 mm. (Observe que a largura do A0, 841 mm, vira a altura do A1; e a largura do A1, 594 mm, é metade da altura do A0, 1189 mm, desprezando-se o resto de 1 mm na divisão por 2.)
Para se obter o formato seguinte da série, o formato A2, faz-se a mesma coisa: corta-se ou dobra-se uma folha A1 na metade de sua altura, obtendo-se duas folhas com área de 1/4 m² e lados de 420 × 594 mm, na mesma razão 1 ∶ √2 . Veja que, novamente, a largura do A1, 594 mm, vira a altura do A2, e a largura do A2, 420 mm, é metade da altura do A1, desprezando-se o resto da divisão. Papéis nos formatos A0, A1 e A2 são tipicamente usados em cartazes.
Já uma folha em formato A3 tem lados de 297 × 420 mm e área de 1/8 m² ― confira a razão dos lados numa calculadora. E, de novo, a largura do A2 se torna a altura do A3, e a largura do A3 é metade da altura do A2. Papéis usados em desenho técnico, nas áreas de engenharia e arquitetura, e também desenho artístico e pintura costumam ser em formato A3. Aliás, foi justamente para facilitar a vida de desenhistas que a Série A foi inicialmente criada. Usando os diferentes formatos da série, que aumentam e diminuem numa proporção fixa, é possível fazer reduções e ampliações de desenhos com pouca ou nenhuma distorção.
Uma folha em formato A4 tem 210 × 297 mm ― confira a área, se é mesmo 1/16 m², e se aquela razão entre largura e altura se mantém. E também repare as larguras e alturas, como se transformam do A3 para o A4 naquele mesmo padrão. Este é o formato dos “cadernos grandes”, dos blocos de desenho (técnico ou artístico), de muitas apostilas de cursinhos e vários livros escolares. Aqueles pacotes de 500 folhas de papel de escritório também costumam ser nesse formato.
O formato A5 tem 148 × 210 mm, área de 1/32 m², e altura e largura naquela mesma relação conhecida. O A5 é o formato típico dos “cadernos pequenos”. O formato A6, de 105 × 148 mm, é o das cadernetas. O formato A7, de 74 × 105 mm, é o dos bloquinhos de anotações. Os formatos A8, A9 e A10 são de cartões de apresentação.
Por que, desses todos, o formato A4 consagrou-se como o mais usado em cadernos, blocos de desenho, livros e revistas, e papéis de escritório? Países em que a Série A não é muito usada, como o Reino Unido e os Estados Unidos, têm outros formatos, como a Carta e o Ofício, com dimensões próximas do A4. Talvez seja uma simples questão de uso consagrado pela tradição, sem muitos motivos práticos ou técnicos para isso. Ou talvez uma página de formato semelhante ao A4 tenha o tamanho ideal para veicular certa quantidade de informações impressas que a maioria das pessoas consegue assimilar com facilidade, sem cansar e fazer pausas. De qualquer forma, seja por praticidade ou conveniência, dê preferência a cadernos em formato A4.
Com que caderno eu vou
Outro aspecto relevante na qualidade dos cadernos é a encadernação, a maneira como as folhas são mantidas juntas. A mais comum, barata e versátil é a encadernação em “espiral”. (Na verdade, é uma hélice…) Você pode abrir o caderno “do avesso”, em 360°, ocupando menos espaço na mesa ou na carteira do que um caderno aberto em 180°, com duas folhas lado a lado. (Mas a folha que fica pra baixo, em contato com a superfície de apoio, pode manchar, se a superfície tiver alguma sujeira.) Outra vantagem dos cadernos em espiral hélice, se eles tiverem capas duras, é que você pode usá-los mesmo sem nenhum apoio plano, segurando numa mão e apoiando no antebraço desta mão, e escrevendo com a outra.
Mas os cadernos em espiral hélice funcionam somente enquanto sua espiral hélice durar ― o que é meio óbvio. Acontece que ela se deforma e perde a funcionalidade rapidamente, e o caderno vai ficando todo desmilinguido. Se a espiral hélice for de arame, então, pode até machucar durante o manuseio. Dependendo da qualidade da espiral hélice, da intensidade do uso e do desleixe do usuário (você), um caderno em espiral hélice pode se tornar inutilizável antes mesmo do final ano letivo.
Os cadernos mais duráveis são aqueles encadernados da mesma maneira que os livros: com folhas costuradas e coladas na capa, que também deve ser preferencialmente rígida. Sua melhor qualidade está naturalmente contabilizada em seu maior preço. E eles têm a desvantagem de não abrir em 360°, só em 180°, ocupando mais espaço na mesa ou na carteira. Então, se você quer durabilidade, prefira cadernos de lombada quadrada (costurados ou colados) e capa dura. Se quer versatilidade, cadernos em espiral hélice que não deformem fácil, e também de capa dura.
Outra característica relevante, olhada com mais atenção por professores e estudantes, é a quantidade de folhas. Você encontra tipicamente cadernos A4 com 100, 200, 300 e 400 folhas. Os maiores costumam ter divisórias internas que podem ser dedicadas a diferentes “matérias” ― que eu prefiro chamar de disciplinas, como são chamadas na faculdade.
Pois é aí é que está o problema! Pode parecer uma boa ideia ter um caderno só, ainda que gigante, para cinco ou mais disciplinas, do que um para cada uma, na medida em que pode ser menos peso para carregar. Mas, no início do ano, você não tem como saber de quantas folhas você vai precisar para cada disciplina. Isso depende muito da própria disciplina, e também do professor, do método de ensino… O número de aulas por semana de cada disciplina é um indicativo muito grosseiro e pouco aproximado. Ao longo do ano, vai faltar folhas para algumas disciplinas, e você terá que, emergencialmente, arrumar partes não escritas em outros cadernos. Para outras disciplinas, sobrarão folhas, ou mesmo partes inteiras, inutilizadas no final do ano.
Conheço somente duas maneiras de tratar esse problema. Uma é, simplesmente, não usar cadernos; usar fichários no lugar deles. Você usa o fichário para quantas disciplinas quiser, marcando elas com divisórias, e vai acrescentando folhas às partes dedicadas a cada disciplina conforme a necessidade. Pode inclusive reaproveitar o fichário de um ano para outro, removendo as folhas do ano anterior e guardando elas em pastas.
Mas fichários também têm suas desvantagens, e não são poucas. Uma é que costumam ser grandes, pesados e desajeitados, por causa de suas estruturas e mecanismos metálicos, e também pelas capas duras, que precisam ser um tanto maiores que as folhas que ficam dentro. Outro problema é que as folhas furadas, vendidas separadamente, são quase sempre de papel vagabundo (de gramatura 63 g/m², como a maioria dos cadernos), ficam meio soltas nas argolas e costumam rasgar ao serem viradas.
Mas o pior mesmo com os fichários são as partes mecânicas, que movimentam as argolas. Elas costumam emperrar, empenar, enferrujar, entortar com o uso, de modo que é raro um fichário durar dois anos ou mais. Ah, sim, fichários também costumam ser mais caros que cadernos. Pesados os prós e contras, não vejo grandes vantagens em substituir cadernos por fichários.
A outra maneira de evitar desperdício de folhas em cadernos foi idealizada por mim recentemente. É você usar cada caderno para duas disciplinas somente ― cadernos maiores para disciplinas que “ameaçam” usar mais folhas, menores para outras que “prometem” usar menos. Mas você não reserva uma quantidade fixa de páginas para cada uma. Ao invés, você começa uma disciplina pela frente do caderno, como faz normalmente; e a outra pela parte de trás, virando o caderno de cabeça pra baixo! (Repare que, ao virar o caderno dessa maneira, a espiral hélice ou a lombada permanecerá à esquerda, de modo que você continuará abrindo o caderno e virando as folhas da direita para a esquerda.)
O que vai acontecer com esse arranjo é que as duas disciplinas vão avançar das capas para o centro do caderno, e vão se encontrar em algum ponto no meio. Assim, o caderno será dividido de maneira otimizada entre as duas disciplinas, que compartilharão um “reservatório” de folhas em branco entre elas, no meio do caderno. E como as folhas de uma disciplina estarão em posição invertida em relação às da outra, não tem risco dos conteúdos das duas se misturarem. Onde quer que as duas disciplinas venham a se encontrar lá no meio do caderno, será a “fronteira final” entre elas! (Obviamente que, quando isso acontecer, você vai precisar de outro caderno.)
E se, até o final do ano, as duas disciplinas não se encontrarem? Nesse caso, pelo menos as folhas que sobrarem estarão todas juntas no meio do caderno, ao invés de espalhadas em diferentes partes. O que quer que você pense em fazer com elas, será mais fácil reaproveitá-las assim. Você pode até mesmo continuar as mesmas disciplinas no mesmo caderno no ano seguinte, até esgotarem as folhas em branco, e você então migrar para outro caderno. É o máximo de economia, com zero desperdício!
Com linhas ou sem linhas
Outra questão referente a cadernos e suas folhas diz respeito à natureza de suas linhas de pauta. Os cadernos sem linhas, ditos “sem pauta”, não têm linhas paralelas impressas em suas páginas. Eles costumam ser inapropriadamente chamados de “lisos”, mas esse termo deve ser usado para descrever a superfície do papel, que pode ser lisa, rugosa ou texturizada. (Os papeis de cadernos e fichários e os de escritório têm sempre superfícies lisas. Papéis artísticos costumam ter superfícies um pouco rugosas. Papeis texturizados são usados em tipos específicos de publicações, como convites de casamento, menus de restaurantes, diplomas de cursos, etc.)
Mas voltando à questão das pautas. Pessoas bastante habilidosas e muito treinadas são capazes de escrever linhas de texto horizontais mais ou menos retas, paralelas e uniformemente espaçadas, sem o auxílio de linhas de pauta. (Professores, por exemplo, conseguem realizar essa proeza em lousas verticais!) Mas, se a maioria de nós for tentar, vai escrever por “linhas tortas”, o que não só é esteticamente desagradável como pode mesmo dificultar a compreensão do texto. É para isso que existem os cadernos de linhas horizontais paralelas e uniformes, que todo mundo conhece como cadernos pautados.
Seguindo uma certa tradição estética, a primeira e a última linhas de pauta são mais distanciadas das bordas superior e inferior do que o espaço regular entre as outras linhas, e geralmente com um espaço maior entre a borda superior e a primeira linha. Também, por motivos estéticos, alguns cadernos não estendem as linhas horizontais até as bordas esquerda e direita, para evitar que as pessoas escrevam até as bordas, e as palavras ameacem “despencar” da página. Mas, mesmo que o seu caderno estenda as linhas de pauta até as bordas laterais, é sempre bom você deixar um espaço antes da primeira e depois da última letras escritas em cada linha.
A maioria dos cadernos pautados têm também uma linha vertical um pouco distanciada da borda esquerda da página, que serve para assinalar a identação dos parágrafos ― quer dizer, a maior distância, em relação à borda esquerda da página, do início da primeira linha do parágrafo que você vai escrever. Você deve começar seu parágrafo à direita dessa linha vertical, e as linhas de baixo você pode começar a escrever à esquerda dessa linha, mais perto da borda esquerda da página. (Agora você finalmente sabe pra que serve essa linha vertical!)
Outro tipo de parágrafo é o que não afasta a primeira linha da margem esquerda da página; ou seja, todas as linhas do parágrafo ficam juntas à margem esquerda. Mas se deixa uma linha em branco entre a última linha escrita de um parágrafo e a primeira linha do parágrafo seguinte ― como é feito neste texto aqui, aliás. Nesse caso, você pode ignorar a linha vertical das páginas do caderno, e começar a escrever à esquerda daquela linha vertical, como se ela simplesmente não estivesse ali. Ou, se você achar “feio” aquela linha vertical cortando as suas palavras, pode começar a escrever a à direita da vertical, dando a mesma indentação para todas. (A palavra pode ser escrita com o sem o primeiro ‘n’.)
Tudo isso é pra produzir um texto corrido esteticamente agradável de se ler. Mas, mesmo assim, os cadernos pautados escolares sofrem todos de um grave defeito: suas linhas horizontais são próximas demais. (Talvez para caber mais linhas de texto na página.) As distâncias entre elas costumam variar entre 6 e 8 mm, o que é suficiente para acomodar os tamanhos das letras que a maioria das pessoas está habituada a fazer, mas não é o bastante para evitar que as hastes inferiores e superiores das letras minúsculas em linhas de texto contíguas se “toquem”.
Isso pode parecer frescura, mas já reparou como é mais desconfortável e cansativo ler um texto manuscrito num caderno do que se for impresso num livro? É que, nos textos impressos, há sempre um espaçamento entre as linhas de texto que evita que as hastes das letras se toquem. Já imaginou como seria difícil ler esta página se as hastes inferiores das letras ‘g’, ‘j’, ‘p’, ‘q’, ‘y’ de uma linha de texto esbarrassem nas hastes superiores das letras ‘b’, ‘d’, ‘f’, ‘h’, ‘k’, ‘l’ da linha seguinte? Pois é…
Só há duas maneiras de evitar isso em cadernos pautados comuns. Uma é escrever letras bem pequeninas, para as hastes não se tocarem ― o que a maioria das pessoas não consegue ou não gosta de fazer, porque é mais demorado, dificulta a legibilidade, exige instrumentos de escrita de pontas muito finas. A alternativa é “pular linhas”, isto é, escrever sobre uma linha de pauta sim, uma linha não. Mas nesse caso fica um espaço exagerado entre uma linha de texto e outra ― a menos que você faça letras bem grandes, o que também muita gente não gosta de fazer. E, de qualquer forma, pular linhas de pauta faz caber menos texto nas páginas e o caderno durar menos.
Seja como for, cadernos com linhas de pauta horizontais não são os mais adequados para disciplinas como Matemática, Física e Química, embora todo mundo use cadernos pautados pra essas disciplinas ― típico caso de “boca torta pelo uso do cachimbo”. Porque as linhas atrapalham a leitura de expoentes, índices, raízes, frações, fórmulas e desenhos, podendo mesmo levar a erros de cálculo aritmético, de manipulação algébrica ou de raciocínio esquemático. Para disciplinas matemáticas e científicas, é melhor usar cadernos sem pauta.
Cadernos sem pauta, no entanto, não são comuns de se encontrar em papelarias. Se você tiver dificuldade de encontrá-los, ou encontrar e achá-los muito caros, tem a alternativa de você criar seu próprio caderno. Basta comprar um ou dois pacotes de 500 folhas de papel de escritório, formato A4 e gramatura 90, separar as folhas nas quantidades que você quiser, e mandar encadernar numa papelaria ou gráfica. Só que, dependendo da encadernação, pode sair mais caro do que comprar cadernos prontos.
Para fazer seus próprios cadernos pautados, você só precisa imprimir as linhas de pauta nas folhas avulsas antes mandar encadernar. Isso pode ser feito em casa mesmo, ou na papelaria ou gráfica. Se preferir fazer assim, aqui está uma Nova Pauta Espelhada para você usar. A primeira página é pra ser impressa em todas as páginas ímpares, as “da frente” de cada folha; a segunda página é pra ser impressa nas páginas pares, as “de trás” de cada folha. Assim, na hora de encadernar, vai sobrar um espaço maior entre as páginas opostas do caderno aberto, para acomodar a espiral hélice ou a lombada.
Eu também desenhei esta pauta com linhas ligeiramente mais afastadas entre si que o convencional, para as hastes das letras não se tocarem e o texto não ficar “embolado”. Também fiz a margem superior menor, pra aproveitar melhor a área total da página. Não fiz aquela linha vertical à esquerda, de i(n)dentação, pra você poder dar o afastamento que quiser na primeira linha dos parágrafos (inclusive afastamento nenhum). E as duas linhas mais escuras, em cima e embaixo, são os limites da área útil da página; não é pra escrever sobre elas. Se você experimentar e aprovar, pode compartilhar!
Pautas especiais para usos especiais
Existe um tipo de caderno pautado que é quadriculado, com linhas horizontais e verticais. Serve para desenhar diagramas com figuras geométricas simples ligadas por linhas e setas, que descrevem hierarquias, estruturas, relações, processos, layouts. Tabelas de dados também ficam bem nesse tipo de pauta, assim como cálculos aritméticos longos e trabalhosos. Mas cada vez mais se usam programas de computador para essas finalidades, de modo que você provavelmente não vai precisar desse tipo de caderno.
Um tipo de pauta que é menos usada do que poderia ou deveria é a dos cadernos milimetrados. Como o nome diz, eles têm finas linhas horizontais e verticais espaçadas em um milímetro, com as linhas que representam centímetros um pouco mais fortes, formando uma grade finíssima que cobre quase toda a superfície da página, fora estreitas margens nas bordas. Esse tipo de pauta é excelente para desenhar gráficos, pois facilita o trabalho de traçar os eixos coordenados, fazer as marcações neles e baixar as linhas das ordenadas e abcissas dos pontos cartesianos até os eixos de referência.
Figuras geométricas e desenhos técnicos também podem se beneficiar de cadernos milimetrados, conforme o tipo de aplicação ou exercício. Mas para Desenho Geométrico e Técnico, folhas sem pauta são usadas. Os professores dessas disciplinas costumam pedir, ao invés de cadernos, blocos de folhas que são apenas coladas numa das bordas, de modo que elas sejam facilmente destacáveis. É melhor para os professores, que podem levar os trabalhos dos alunos pra corrigir em casa. Para os alunos, fica meio desajeitado depois guardar as folhas soltas; mas nada que uma pasta plástica com elástico não resolva.
Outro tipo de caderno indicado para gráficos, mas pouquíssimo utilizado no Ensino Médio (fora em cursos técnicos), é o caderno isométrico. Ele tem linhas verticais e transversais em duas direções diferentes, formando uma grade de pequenos losangos partidos ao meio na vertical ― uma grade de triângulos equiláteros encaixados, na verdade. Pra não ficar uma grade muito confusa, as linhas que se interseccionam três a três são separadas em alguns milímetros. Com essa grade, se pode representar três eixos cartesianos, e gráficos e figuras em três dimensões ― na verdade, gráficos e figuras 3D “achatadas” em 2D. Como a escala nos três eixos representados é idêntica (isto é, os lados dos minitriângulos são iguais), essa grade é chamada de perspectiva isométrica (que significa “igual medida”), daí o nome do caderno.
(No mundo real, como os objetos parecem menores com a distância, se imaginarmos eixos coordenados em qualquer direção que olharmos, eles não terão unidades visualmente idênticas; ou seja, a perspectiva de nossa visão não é isométrica.)
Se você quiser poupar tempo nos exercícios envolvendo gráficos e figuras geométricas, experimente usar cadernos milimetrados para gráficos e figuras 2D e isométricos para gráficos e figuras 3D. Em geral, suas folhas podem ser facilmente destacadas para serem coladas ou grampeadas nas folhas do seu caderno “normal”. Mas, se você tem tempo de sobra, ou se gosta de gráficos “limpinhos”, sem uma grade de linhas por trás, prefira folhas sem pauta para esses desenhos.
(Há outros tipos de cadernos pautados próprios para determinados tipos de gráficos que só são usados em aplicações científicas e de engenharia, que você não precisa conhecer por hora.)
Pra resumir:
- prefira cadernos em formato A4 e folhas com gramatura mínima de 90 g/m²;
- para Desenho Geométrico e Artístico, use blocos de folhas destacáveis com gramatura mínima de 120 g/m²;
- para disciplinas que têm muito texto corrido (Ciências Linguísticas e Humanas), prefira cadernos pautados, com linhas horizontais;
- para disciplinas que têm muitas fórmulas e desenhos, (Ciências Exatas e Naturais), prefira cadernos sem pauta;
- para finalidades especiais, use cadernos especiais ― milimetrados para gráficos e desenhos 2D, isométricos para desenhos 3D ―, ou use cadernos sem pauta mesmo.
Outras características, como quantidade de folhas, tipo de capa e de encadernação, detalhes das linhas de pauta, avalie os prós e contras conforme a finalidade do caderno, e leve em conta também, claro, o seu gosto pessoal.
Adendo: O “Caderno inteligente”
Há poucos anos, chegou no Brasil um tipo de caderno diferente, que resolve de forma bastante eficiente e elegante várias chatices dos cadernos convencionais. No exterior, onde surgiu, é chamado tecnicamente de caderno de disco, mas aqui tem sido chamado de “caderno inteligente” ― que é o nome da marca mais difundida. É um caderno que incorpora a ideia do fichário, de poder inserir e retirar folhas avulsas, mas mantém o formato compacto de um caderno convencional.
A mágica (taí: bem que podiam também ser chamados de “cadernos mágicos”) é conseguida por um sistema de encadernação que consiste num punhado de discos de plástico que se encaixam nas folhas, capas e divisórias por pequenas fendas cortadas nelas ao longo de uma das bordas. Você retira as folhas puxando elas pra cima, soltando os discos das fendas, e coloca elas empurrando pra baixo, encaixando os discos nas fendas. Para as folhas não rasgarem, precisam ser de gramatura maior que a dos cadernos comuns ― de 90 ou 120 g/cm², o que já é uma vantagem.
(Inclusive, são vendidos aparelhos furadores especiais, com os quais se pode fazer as fendas de encaixe dos discos em qualquer folha de papel. Dá pra comprar pela Amazon.)
A flexibilidade de organizar o seu caderno nesse sistema é total! Você pode misturar folhas de diferentes tipos (pautadas, sem pauta, quadriculadas, etc.) exigidas para uma mesma disciplina. Pode usar um mesmo caderno para várias disciplinas, e ir colocando folhas nas divisórias de cada uma conforme o necessário. Pode ter um desses só pra levar pro colégio, com apenas um punhado de folhas que você espera usar em todas as aulas daquele dia; e, chegando em casa, transferir as folhas usadas para outros cadernos específicos de cada disciplina. (Bem melhor que carregar dois ou três cadernos grandes e pesados na mochila todos os dias.)
O único inconveniente desse sistema é o preço, já que os cadernos de disco costumam custar mais que os de espiral hélice. Mas, como você não vai precisar comprar vários de uma só vez ― de início, apenas um conjunto de discos, capas, divisórias e folhas, que você depois vai ampliando aos poucos ―, no final do ano pode até sair mais barato que quatro ou cinco cadernos grandes e desajeitados que acabariam subutilizados.