Há uma certa confusão entre nós, brasileiros, acerca do que chamamos de “Ciências Humanas”. São disciplinas que, na tradição acadêmica inglesa, cabem em dois grupos distintos, embora relacionados: as Humanities, ou Humanidades, e as Social Sciences, ou Ciências Sociais. Estas últimas são mais fáceis de definir, como disciplinas que adaptaram o método científico (hipotético‐dedutivo e empírico‐indutivo) a questões referentes ao comportamento dos seres humanos como seres sociais. Suas teorias surgem a partir de procedimentos lógicos aplicados a hipóteses que são postas à prova por observações e experimentos criteriosos. Elas estudam tanto os indivíduos inseridos em sociedades quanto as sociedades como um todo. Incluem a Psicologia, a Linguística, a Antropologia, a Arqueologia, a Sociologia, a Economia, a Ciência Política, pra ficar apenas nas principais. (Você pode pesquisar na Wikipedia sobre o que cada uma delas trata.)

As Humanidades, por outro lado, reúnem um conjunto de disciplinas que tratam de aspectos analíticos e descritivos das diversas manifestações culturais humanas. Incluem os campos da História, da Filosofia, do Direito, da Literatura e das Artes em geral. Essas disciplinas não têm, propriamente, um método científico guiando suas análises. Suas teorias são visões apriorísticas de mundo, muito particulares dos pensadores que as formulam, e que se mostram úteis para interpretar e criticar as diversas manifestações culturais, atribuir sentidos e valores a essas manifestações e construir narrativas coerentes a partir delas.

As Humanidades até podem se valer de técnicas, raciocínios e métodos “emprestados” das Ciências Sociais, mas não são, em si mesmas, ciências, num sentido rigoroso do termo. As “teorias” das Humanidades são melhor chamadas de doutrinas ou ideologias. E, assim como as Humanidades podem ser influenciadas por descobertas das Ciências Sociais, as Ciências Sociais também acabam sendo muito influenciadas pelas ideologias das Humanidades, por vezes até mesmo prejudicando a aplicação dos métodos científicos que as Ciências Sociais tentam seguir. É o que se quer dizer quando se acusa uma determinada teoria das Ciências Sociais de ser muito ideologizada.

Uma ideologia que é bastante influente nas Humanidades e nas Ciências Sociais na América Latina, e sobretudo no Brasil, é o marxismo, que leva o nome de seu principal formulador, o filósofo (e sociólogo, e economista, e cientista político, e historiador) Karl Marx, que viveu no século 19. São pelo menos 40 anos em que a maioria dos estudantes dos cursos brasileiros de bacharelado e licenciatura em História, Geografia, Filosofia, Sociologia, Antropologia, etc., são ensinados e formados segundo uma linha doutrinária majoritariamente marxista. Não é de se espantar, pois, que a quase totalidade dos livros didáticos, bem como de apostilas de cursinhos, provas de vestibulares e do próprio Enem, apresentem uma leitura marxista do mundo como a única válida ou “correta”.

Mais um problema que afetou as Humanidades e Ciências Sociais (e também as Ciências Exatas e Naturais, em menor grau), foi que, com tantas disciplinas obrigatórias, simplesmente não dá tempo dos professores ensinarem e dos estudantes aprenderem muita coisa. Quando Sociologia e Filosofia não eram obrigatórias, havia mais tempo de aula de História nas grades horárias dos colégios. Havia coleções de três livros de História (“Antiga e Medieval”, “Moderna e Contemporânea”, e “do Brasil”), cada um com tanto conteúdo quanto um atual “volume único” dessa disciplina.

É por isso tudo que, não é exagero nenhum dizer, você não aprenderá História, Geografia, Filosofia, nem Sociologia, de verdade, com seus professores, ou nos livros didáticos que eles indicarem pra você. E nem nas apostilas dos melhores cursos pré-vestibulares. Você só vai ver uma grosseira simplificação, quando não uma deturpação, do que essas disciplinas realmente deviam ser. Mesmo assim, você vai precisar estudar essas disciplinas da maneira precária, limitada, ideologizada com que são ensinadas nas escolas, porque é dessa maneira que elas são cobradas nas provas de seleção para as universidades.

Começamos com livros mais genéricos e superficiais, mais recentes, e migramos para livros mais especializados, mas não chegamos a livros realmente profundos.

Estude os dois livros seguintes em paralelo, alternando os capítulos de um e de outro.

• Conexões: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas;
• Moderna Plus: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Se no seu Enem ou vestibular não forem cobradas disciplinas de Humanas, não precisa passar deste ponto. É o caso dos vestibulares do IME e do ITA. (É útil saber um mínimo dessas disciplinas para fazer provas de redação.)

Se disciplinas de Humanas forem cobradas no seu Enem ou vestibular, estude os quatro livros a seguir, depois dos anteriores.

• História – Das Cavernas ao Terceiro Milênio, de Patrícia Braick e Myriam Mota
• Geografia: Contextos e Redes, de Ângela da Silva, Nelson Olic e Ruy Lozano
• Sociologia em Movimento, de vários autores
• Filosofando: Introdução à Filosofia, de Maria Aranha e Maria Martins

Se você vai fazer faculdade em Ciências Exatas ou Naturais ou Engenharia ou Computação, estude estes livros acima em paralelo, pra terminar eles mais ou menos ao mesmo tempo. Mas se você vai fazer faculdade em Humanidades ou Ciências Sociais, estude eles sequencialmente, um depois do outro. E depois deles, estude também os quatro livros a seguir, desta vez em paralelo, pra terminar eles juntos.

• História: Ensino Médio, de Ronaldo Vainfas e outros.
• Geografia: Território e Sociedade, de Cláudio Mendonça e outros
• Sociologia para o Ensino Médio, de Nelson Tomazi e Marco Rossi
• Iniciação à Filosofia, de Marilena Chauí

Se você vai disputar vagas para um curso bastante concorrido na área de Humanas, estude os seis livros seguintes em conjunto, conforme indicado na descrição de cada um, depois dos anteriores.

• Glencoe World History + Modern History, de Jackson Spielvogel. É a coisa mais próxima de História de verdade nesta lista.
• Brasil: Uma História, de Eduardo Bueno. Intercale os capítulos deste livro com os do anterior, a partir da Idade Moderna.
• História da Arte, de Graça Proença. Intercale os capítulos deste livro com os dos anteriores, em ordem cronológica.
• Iniciação à História da Filosofia e Textos Básicos de Filosofia, de Danilo Marcondes. É a coisa mais próxima de Filosofia de verdade nesta lista. Intercale os capítulos deste livro com os dos anteriores, em ordem cronológica.
• Introdução à Sociologia, de Reinaldo Dias. É a coisa mais próxima de Sociologia de verdade nesta lista. Estude em paralelo com os quatro livros acima.
• Geografia Geral e do Brasil, de Eustáquio de Sene. Em paralelo com os anteriores, só pra revisar a matéria desta disciplina.

Para sincronizar estes seis livros, você pode fazer assim: cinco sessões de estudo com os conteúdos misturados dos quatro primeiros livros (o primeiro deles, na verdade, são dois em um) para cada sessão de estudo do livro de Sociologia e cada sessão do livro de Geografia. (Ou seja, uma proporção de 5:1:1.)

Eu poderia indicar outros mais, que seriam de “Nível Avançado”; mas, francamente, você não vai precisar mais do que estes acima para já ficar muito à frente dos seus concorrentes.